O Impecável
"Um homem que dorme tem em círculo à sua volta o fio das horas, a ordem dos anos e dos mundos. Consulta-os instintivamente ao acordar, e neles lê num segundo o ponto da terra que ocupa, o tempo que decorreu até ao seu despertar; mas as respectivas linhas podem misturar-se, quebrar-se." Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido



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quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Náusea e impreparação


Francisco Louçã arremessou, no debate de terça, o já famoso argumento da «isenção» concedida a um grupo económico. Louçã inflamou-se por ter sido concedida uma isenção de cerca de € 2,5 M numa operação de reestruturação. E inflamou-se ainda mais porque tal facto seria escandaloso à luz dos lucros da banca: mais de mil milhões de euros por ano!

Não curarei aqui de expor a ignorância jurídica que subjaz ao «argumento». O Jaquinzinhos, por exemplo, já o fez com denodo. Interessa-me mais apontar o argumento de Louçã como um profundo acto de demagogia.

A mensagem que Louçã quer fazer realmente passar não é a de que o Governo terá cometido uma ilegalidade. O apelo de Louçã não é dirigido a um escrutínio racional de uma certa situação. Com toda a franqueza, Louçã parece frequentemente ser indiferente à legalidade. O que Louçã quer (implicitamente) esgrimir é um argumento de torpe moralidade. Quer induzir em quem o ouve o seguinte raciocínio: «os bancos têm lucros fenomenais e pagam poucos impostos; eu que ganho pouco, pago muito». O que se pretende é que cada um contraponha a «injustiça» do pouco que ganha ao muito que o parceiro ganha; o que se quer é que cada um se indisponha por supostamente estar a contribuir mais do que o outro. Ora, isto é apelar ao que de mais baixo e medíocre existe na consciência social: o apelo é feito à inveja. É elevada a motor de decisão, apesar de ser semente da discórdia. Do fraccionamento. Do egoísmo.

Chegados a este ponto, culpar o Governo por esse facto – ou seja, pelo mal que se vive em contradição com o bem em que outros vivem – é um passo. Aí, importa descarregar o voto em quem compreende a nossa «dor». Em quem faz dela eco – sem que se perceba que não há verdadeiramente injustiça, mas só egoísmo mal-direccionado. O apelo de Louçã é, pois, um apelo ao voto de ressentimento. Ao voto ressabiado. Ao voto revoltado. Não há nada de digno, sério, elevado ou sincero nisto. Não há superioridade moral; só oportunismo.

Perante este cenário, seria de esperar que os candidatos dos demais partidos dissessem qualquer coisa em contrário. Debalde. É gritante a facilidade com que os demais candidatos entraram na corrente do discurso. Ora, isso é absolutamente inaceitável.

Não se exige aos demais candidatos que conheçam o regime jurídico em causa (enfim, até se exige, mas dá-se de barato...); nem se exige que conheçam o próprio processo. Mas é inaceitável que deixem passar em claro a demagogia do rasteiro argumento «anti-capitalismo». Ou, pior, que abracem, com maoir ou menor discrição ou com maior ou menor inépcia, esse discurso. O que podem esperar os empresários portugueses e estrangeiros de José Sócrates, quando este não se insurge imediatamente contra este tipo de lógica? Que credibilidade devemos dar às suas manifestações de princípios de querer dar «confiança» e «esperança» à economia? É com esta passividade e encolhimento perante estes raciocínios que se espera gerar a dita confiança? E quanto à direita, como é possível que consinta deixar passar um argumento tão básico contra a iniciativa privada? Devia ter sido imediatamente dito que o Estado não tributa fulano A porque fulano A é rico e ser rico é merecedor de repúdio; tributa-o porque recebe mais ou menos num ano e apenas em função das necessidades do Estado.

Todos estes líderes deveriam ter salientado o papel fulcral da banca numa economia livre e sadia. Sem bancos, não há economia livre que funcione. Qual é a alternativa? Obstaculizar ainda mais as operações de reestruturação empresarial? Isso só teria o efeito útil de estropiar o já débil tecido empresarial português, lançando para o desemprego milhares de portugueses. E deveria nacionalizar-se a banca, ou tornar a sua actividade cada vez mais desinteressante? Isso só resultaria numa rápida fuga de capitais de Portugal. Deveria, por isso, ter sido contraposta a dura realidade ao arrazoado demagógico: certas pessoas devem pagar menos agora para que, no futuro, todos paguem menos. Era isto que devia ter sido respondido.
O tempo é de responsabilidade, de fazer peito ao futuro e responder aos sacrifícios. Contrapor opções difíceis e difíceis de explicar a populismos rasteiros: a isto se chama sentido de Estado.

Jagoz | quinta-feira, fevereiro 17, 2005 |

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A ler

Patrick Gaumer, Le Larousse de la bande dessinée



Correspondence Between Stalin, Roosevelt, Truman, Churchill and Attlee During World War II



Dietrich Schwanitz, Die Geschichte Europas



Dietrich Schwanitz, Bildung - Alles war man wissen muss



Niall Ferguson, Virtual History: Alternatives and Counterfactuals



Niall Ferguson, The House of Rothschild: Money's Prophets 1798-1848



Niall Ferguson, House of Rothschild: The World's Banker, 1849-1998



Joe Sacco, Safe Area Goradze



Joe Sacco, Palestine



Hugo Pratt, La Maison Dorée de Samarkand



John Kenneth Galbraith, The Affluent Society (Penguin Business)



Mary S. Lovell, The Sisters - The Saga of the Mitford Family (aconselhado pelo Jansenista)



Charlotte Mosley, The letters os Nancy Mitford and Evelyn Waugh (aconselhado pelo Jansenista)



Ron Chernow, Alexander Hamilton



Henry Fielding, Diário de uma viagem a Lisboa



AAVV, Budget Theory in the Public Sector



JOHN GRAY, Heresies: Against Progress and Other Illusions



CATHERINE JINKS, O Inquisidor, Bertrand, 2004



ANNE APPLEBAUM, Gulag: A History of the Soviet Camps, Penguin Books Ltd, 2004



António Castro Henriques, A conquista do Algarve, de 1189 a 1249. O Segundo Reino



Philip K. Dick, À espera do ano passado



Richard K. Armey e Dick Armey, The Flat Tax: A Citizen's Guide to the Facts on What It Will Do for You, Your Country, and Your Pocketbook



Jagdish N. Bhagwati, In Defense of Globalization, Oxford



Winston Churchill, My Early Life, Eland




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Eraserhead (1977) Posted by Hello

Nos meus lábios, JACQUES AUDIARD, 2001



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