O Impecável
"Um homem que dorme tem em círculo à sua volta o fio das horas, a ordem dos anos e dos mundos. Consulta-os instintivamente ao acordar, e neles lê num segundo o ponto da terra que ocupa, o tempo que decorreu até ao seu despertar; mas as respectivas linhas podem misturar-se, quebrar-se." Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido



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quinta-feira, setembro 30, 2004

Mais verdades fáceis...


Em resposta ao Irreflexões, aqui vão mais umas verdades:

1) Será que, perante os dados que nos são fornecidos, há uma tendência automática para os níveis desejáveis de pleno emprego? Não creio. O Estado está dotado de instrumentos para, moderadamente, corrigir os efeitos indesejáveis da inflação e do desemprego;

2) O conhecimento da realidade traduzida pela Curva de Laffer assenta, porém, em pressupostos diversos: o ideal seria que o Estado nem sequer interviesse na economia. Ou seja, o mercado que se baste a si mesmo.

3) Sendo assim, estarão os XIV/XV Governos Constitucionais a agir no pressuposto que o Estado deve deixar os mecanismos do mercado funcionar, apontando para uma corrente denominada supply-side? Aparentemente, a resposta parece indicar que sim, mas um estudo mais aprofundado da questão permite concluir que estamos enganados.

Sem gráficos ou artifícios matemáticos, vejamos. A supply-side theory sustenta que a única forma de permitir que a economia cresça é através da confiança dos mecanismos do mercado por via:
a) Da redução dos impostos sobre o rendimento (empresarial e individual) - realmente o rendimento empresarial é tributado a uma taxa inferior, mas o individual, marginalmente, sofreu um agravamento fiscal - a somar (1) à perda do poder de compra, em virtude do congelamennto dos salários da função pública (não sejamos ingénuos, uma grande fatia do país está à sombra da função pública), (2) ao aumento da taxa normal de IVA de 17% para 19%, (3) à reforma e alargamento da base tributável (em virtude da actualização dos valores) em sede de Impostos sobre o Património, etc... etc...
b) Da consequente redução da despesa - demagogia para os nossos ouvidos, meus caros leitores. Terá sido impressão ou os hospitais vão deixar de poder recorrer a empréstimos bancários? Isto é, onde vão parar os níveis da dívida pública administrativa? Uma vez mais, o Estado mau-pagador.

Por mais que nos venham dizer, depois, que foi a intervenção do Governo que estimulou a economia, irei levantar sérias dúvidas se devemos atribuir créditos aos XIV/XV Governos constitucionais. Como é que tal é possível se nem pelos ensinamentos do nosso Mestre Laffer se regem?



Guilherme Oliveira Martins | quinta-feira, setembro 30, 2004 | |

quarta-feira, setembro 29, 2004

Aumento de impostos/aumento de receitas?


Preços do petróleo na 2ª metade do século XX

Pois é! Apesar de alguns não pensarem assim, não é expectável que, pelo simples aumento da taxa do imposto, se registe um aumento das receitas: assim nos ensinou o delineador da curva, Arthur Laffer.
No inverso, a diminuição do imposto pode não provocar um aumento de receitas: bastará pensar na pouca flutuação (com probabilidade, quase nula) que as trocas registariam caso a taxa de IVA baixasse para 15%.
É visível que nem sempre as melhores soluções são aquelas que são adoptadas. Prefere-se, com frequência, o caminho da aparência: para alguns é mesmo mais tentadora a política do "aperto de cinto" (pagando mais imposto/perdendo direito a benefícios fiscais) do que aquela que aparece a incentivar o consumo e a potenciar o dinamismo do mercado.
São, pois, as políticas de severidade que estão na moda. Mas a moda, por natureza, é passageira. Seguindo os ensinamentos das gerações anciãs será isto o fim de uma era?
"A democracia é o pior regime... à excepção de todos os outros".

Guilherme Oliveira Martins | quarta-feira, setembro 29, 2004 | |

terça-feira, setembro 28, 2004

Petróleo e expectativas...


Preços do petróleo na 2ª metade do século XX

Preços do petróleo na 2ª metade do século XX

Preços do petróleo no século XX
Preços do petróleo no século XX


Mais uma vez o petróleo atinge máximo histórico (acima dos 50 dólares/barril).

Evoluções futuras? Possíveis cenários? Façamos futurismo (adaptando o relatório do Institut Français do Petrole):

a) Hipótese A - Evolução moderada dos preços? Pressupondo que a situação da Venezuela volta ao normal, que o Iraque mantém as exportações ao mesmo nível que 2004 e que a Yukos resolve os seus problemas, a evolução dos preços será moderada, sem choques petrolíferos evidentes;

b) Hipótese B - Choque petrolífero? Não ficando resolvidos os problemas da Venezuela e da Yukos, diminuindo as exportações iraquianas, a oferta vai diminuir ainda mais, desencadeando um excesso de procura e, consequentemente, uma insuportável subida de preços, com a crescente diminuição do rendimento disponível dos países petróleo-dependentes;

c) Hipótese C - Soft landing? Pela diminuição da procura, moderando, assim, o excesso da mesma, permitindo uma adaptação do preço oferta/procura: isto só seria possível se, por exemplo, a China permitisse os preços livres do petróleo.

d) Hipótese D - Expectativas dos consumidores? Estas oscilações de preços não são saudáveis, porquanto o consumidor pode esperar uma subida de preços, sem que a mesma se tenha desencadeado, originando, sem existir vontade para isso, uma subida de preços (Efeito de Édipo).

Qual delas será verosímil? Qualquer uma... Energias alternativas, é tempo de avançarem...

Guilherme Oliveira Martins | terça-feira, setembro 28, 2004 | |



Brutal: Xangai, o colosso da Fórmula 1


Xangai 2004

Mais de 5 km de pista projectados por Hermann Tilke, arquitecto alemão que percebe de traçados de fórmula 1. A China, próxima potência mundial, estreia-se no desporto-rei do automobilismo...

Guilherme Oliveira Martins | terça-feira, setembro 28, 2004 | |

segunda-feira, setembro 27, 2004

O Nacional Porreirismo



Atenção à Polícia! Posted by Hello

Quantas vezes não fomos avisados na estrada, por sinais de luzes, que estava polícia perto? É o nacional porreirismo português... com vantagens e desvantagens. Se a simpatia e companheirismo português se resumisse a isso estava tudo correcto - afinal somos um povo acolhedor e de boas maneiras. Infelizmente, encontramos o nacional porreirismo em tudo - basta arranjarmos "amizades" nas repartições públicas, que tudo se torna fácil, basta juntarmos um atestado médico a conselho de um funcionário amigo, que tudo corre como queremos. Reflictamos um pouco: um caso ou outro não prejudica assim tanto. Agora, multipliquem por 10 milhões de habitantes e um favor aqui, mais outro acolá transforma o sistema em algo insuportável!
Aí está a falta de eficiência da organização político-administrativa nacional! Alguma vez pensaríamos passar à frente de alguém, se isso representasse a complicação do sistema? Claro que não! Acabem-se com os privilégios e "amizades" e teremos eficiência! Até lá, continuemos na lógica oligárquica do antigo regime... até findarmos com o nacional porreirismo.

Guilherme Oliveira Martins | segunda-feira, setembro 27, 2004 | |

domingo, setembro 26, 2004

Ronald Reagan: Um (esquecido) Herói do Nosso Tempo



Posted by Hello


Ronald Wilson Reagan morreu em 5 de Junho de 2004, na véspera do sexagésimo aniversário do desembarque aliado na Normandia. Lamenta-se o seu desaparecimento, esperado que era há muito o seu resgate à Doença de Alzheimer. Quanto ao título desta evocação, furtou-se a esse outro esquecido vulto da política portuguesa e europeia: Francisco Lucas Pires. Este escreveu há anos, num suplemento especial do Independente, um belo elogio de Reagan, cujo mote ora se recupera.
Numa altura em que a Velha Europa deriva no Atlântico, afastando-se suicidariamente dos EUA, e enveredando por sentimentos primários de ressabiamento – imbuídos de uma latente inveja da liderança económica e política americana – é fácil radicar a incompreensão continental pelos grandes desígnios da América do nosso tempo na sua deturpada visão de Reagan.
A Velha Europa, ainda muito refém do seu elitismo e presunção de superioridade cultural, literalmente esnobou do presidente mais adorado dos EUA, ridicularizando-o e reduzindo-o à caricatura de político-actor. Pura incompreensão do mestre ancião que vê o seu jovem discípulo ultrapassá-lo, e se mostra ainda incapaz de apreender o essencial da experiência americana, esse radical fascínio, para tantos dos mais deserdados em qualquer parte do mundo, que o Green Card continua a exercer.
Longe da espessura intelectual de folha de papel que lhe imputam, Reagan é dos personagens políticos mais complexos da segunda metade do século XX: começou por ser Democrata antes se converter ao Republicanismo, era divorciado e filho de um pai com problemas de alcoolismo, mas exprimia uma fé inabalável nas virtudes da família; tinha origens muito humildes, mas nunca alentou ressentimentos contra os ricos; raramente ia à missa, mas veiculava e defendia uma religiosidade profunda; era um excelente cómico e orador de improviso e não apenas um bom leitor de discursos encomendados. Muitos ignoram certamente os primeiros termos desta contraposição.
Como Presidente, não era especialmente trabalhador, acusava o peso da idade, e dizem os próximos que dormia mais do que os seus antecessores. Mas fez o podia fazer de melhor: inspirar uma nação inteira com os seus discursos, transmitir-lhe esperança com o seu humor, mostrar-lhe respeito nas suas variadas peregrinações. Estava solidamente alicerçado na América profunda, que o reelegeu esmagadoramente, e encarnou-a ainda, no Rancho del Cielo onde esgotou a sua existência.
Não se prostituiu politicamente, prometendo o que sabia de antemão não ir cumprir. Quando em eleições afiançou reduções de impostos cumpriu-as, mesmo sob a crítica de estar a beneficiar os mais ricos e prejudicar o défice orçamental. Como é diferente de outros… Estes, até como meros actores credíveis muito teriam a aprender com Reagan.
Também na política internacional Reagan foi um vencedor nato. Recuperou, como ninguém, o excepcionalismo de inspiração wilsoniana, brilhantemente exposto por Kissinger na sua Diplomacy: era um crente nas virtudes universais da liberdade política e económica, em que investiu um desavergonhado proselitismo. Arriscou forte e não desiludiu. Ao ameaçar com a Guerra das Estrelas contra o Império do Mal ganhou a Guerra-Fria e iniciou o desarmamento nuclear, num dos mais bem sucedidos bluffs da história. A sua espada foi forte, mas mais forte ainda foi a sua pena: era o Great Communicator.
Como conviria hoje à Alemanha lembrar o amigo americano que, com mísseis soviéticos apontados à MittellEurope, teve a coragem de dizer “There is only one Berlin” e “Mr. Gorbachev: tear down this wall”, bem como de visitar o cemitério de Bitburg, onde jaziam, entre dois mil mortos de guerra alemães, quarenta e oito oficiais das SS Nazis, ajudando uma nova geração de germânicos na redenção do opróbrio. Tal como à França, essa grande herdeira da tradição de intriga e hipocrisia política de Richelieu, seria útil a recordação das palavras de Reagan, proferidas na Normandia, aquando do quadragésimo aniversário do desembarque em Omaha Beach: “We will always remember. We will always be proud. We will always be prepared, so we may always be free”. Quando dois terços dos alemães, em sondagem recente, confessam nenhuma dívida sentir pela ajuda americana à reconstrução e reunificação alemã, e em França florescem os panfletários anti-EUA, bem se pode dizer que o dia do favor é a véspera da ingratidão.
Ronnie, designação carinhosa e tributário do amor do seu povo, encarnou o melhor do idealismo americano: por isso é tão querido pelos que partilham do American Dream, por isso foi tão ressentido por quem é, cada vez mais, uma potência de segunda categoria. A nação americana, generosamente, desculpou-lhe até o escândalo Irão-Contras: era o “Teflon President”, nada o atingia, pois estava-lhe já reservado um alto lugar no panteão. Continuou ainda, na sua pátria, a receber constantes lembranças: o seu nome consagra há já vários anos o aeroporto de Washington e em 2002 recebeu a Medalha de Ouro do Congresso. Fora dos EUA, a popularidade de Reagan será certamente maior entre o baixo operariado de Gdansk que apoiou nos dias difíceis da luta pelo sindicalismo livre do que nas altas chancelarias franco-alemãs. Não podia estar melhor acompanhado, portanto.
Reagan, nas palavras de Francisco Lucas Pires, “é mesmo um dos grandes fundadores do actual futuro”. Ele legou-nos um mundo mais próspero, mais livre, e necessariamente mais complexo. Esse é o nosso mundo. Este é o Mundo de Reagan.


O Liberal | domingo, setembro 26, 2004 | |

sábado, setembro 25, 2004

A extinção dos benefícios fiscais em números: PPR's e CPH's


De acordo com os valores estimativos apresentados pelo Tribunal de Contas (no parecer da Conta Geral do Estado de 2002) a extinção dos benefícios fiscais representaria o corte de uma fatia importante das isenções concedidas pelo Estado. Senão vejamos:

a) Planos Poupança Reforma (PPR's)
- em 2002, num montante global de 565,7 milhões de euros, 160,1 milhões de euros correspondiam a PPR's (28,30% do montante global);
- em 2003 (valores corrigidos), num montante global de 470,2 milhões de euros, 132,1 milhões de euros correspondiam a PPR's (28,09% do montante global);
- em 2004 (valores estimados), num montante global de 484,4 milhões de euros, 146,6 milhões de euros correspondiam a PPR's (30,26% do montante global).

b) Conta Poupança Habitação (CPH's)
- em 2002, num montante global de 565,7 milhões de euros, 202,5 milhões de euros correspondiam a CPH's (35,79% do montante global);
- em 2003 (valores corrigidos), num montante global de 470,2 milhões de euros, 145,5 milhões de euros correspondiam a CPH's (30,94% do montante global);
- em 2004 (valores estimados), num montante global de 484,4 milhões de euros, 142,9 milhões de euros correspondiam a CPH's (29,50% do montante global).

Em termos teóricos, pensa-se que a mera extinção dos benefícios fiscais representará um aumento da receita fiscal - veja-se se os valores estimativos apresentados tiverem representação real! No entanto, como sabemos, o contribuinte molda o seu comportamento em face do sistema fiscal criado - o que quer significar que nem sempre o desiderato de aumentar a receita é alcançado. Nos EUA, o problema da contabilização dos benefícios fiscais discute-se desde 1972, tendo-se inclusivamente criado um gabinete para controlo prévio dos mesmos. Em Portugal apenas existem estimativas...

Guilherme Oliveira Martins | sábado, setembro 25, 2004 | |

sexta-feira, setembro 24, 2004

Voto electrónico...



Ops! Já me enganei!
Fonte: S. Petersburg Times
Posted by Hello

Enquanto por cá somos inundados de informações e desinformações quanto à colocação manual dos professores, nos EUA discutem-se as vantagens e inconvenientes do voto electrónico. Se a Verified Voting alterta para possibilidade de existirem erros - trata-se de máquinas... -, já a comunicação social desconfia da fiabilidade dos programas informáticos, acreditando mesmo que o combate Kerry/Bush corporizará uma 2ª versão do Bush/Al Gore, mas desta vez electronicamente sujeita a fraudes.

Guilherme Oliveira Martins | sexta-feira, setembro 24, 2004 | |

quinta-feira, setembro 23, 2004

Andar de cavalo vs. Andar a cavalo



Baucher executando um "galop sur place" Posted by Hello

Direito, ligeiro e para a frente, desde que os movimentos sejam suaves, francos e elásticos - são os ensinamentos básicos da alta escola equestre. Andar de cavalo não é o mesmo que andar a cavalo! Para andar a cavalo são necessários alguns anos de experiência e algumas quedas - a equitação é um desporto de paciência, destreza e insistência!

Não me estou a referir à equitação de filmes de cowboys, ou até mesmo àquelas voltas de cavalo (pilecas) na praia que nos são impingidas nas viagens paradisíacas. Andar a cavalo requer humildade!

Onde quero chegar? Os ensinamentos enunciados deviam ser aplicados à nossa actividade profissional, mas infelizmente não o são - muitas vezes assistimos a nomeações, contratações, que em nada se coadunam com a experiência adquirida. Não deixa de ser um paradoxo que essas nomeações/contratações sejam mais frequentes na função pública.

A função pública anda "de cavalo" e muito raramente "a cavalo"! Cabe às futuras gerações a mudança...

Guilherme Oliveira Martins | quinta-feira, setembro 23, 2004 | |

quarta-feira, setembro 22, 2004

Colocações de professores - o dia seguinte...



Se deseja consultar a lista das colocações para o ano lectivo 2004/2005, aguarde um pouco na sala de espera. A GERÊNCIA Posted by Hello

Guilherme Oliveira Martins | quarta-feira, setembro 22, 2004 | |



Exmos. Governantes...


"Venho, por este meio, na qualidade de cidadão e eleitor, alertar V. Exas. que, ao contrário do que ouço dizer nos meios de comunicação social, neutralidade fiscal não é sinónimo de simplicidade fiscal.

Um sistema fiscal neutro não é aquele em que há menos benefícios fiscais, é pelo contrário aquele que se aproxima das necessidades e dos incentivos do mercado, que percebe o contribuinte e tenta não contrariar os seus comportamentos (de poupança, de consumo e de investimento).

Um sistema fiscal simples é aquele que permite o acesso e percepção por parte do contribuinte dos seus direitos e deveres. A simplicidade encerra a possibilidade de o sujeito passivo planificar as suas decisões, com o máximo de benefício e o mínimo de custo.

Feitas as apresentações, porque razão é que V. Exas. insistem em defender que a extinção dos benefícios fiscais permitirá, como que por artes mágicas, a simplicidade e a neutralidade do sistema? Palavras, para quê?

Com os melhores cumprimentos, subscrevo-me,

Impecável GWOM"


Mais uma vez a proposta de Orçamento do Estado para 2005 ainda não saiu e já se fala nela! Para os mais curiosos, estar atento à cruzada do guru da taxa plana (flat tax) - Mr. Dick Armey.


Guilherme Oliveira Martins | quarta-feira, setembro 22, 2004 | |

terça-feira, setembro 21, 2004

Descubra as diferenças...



AK47 Posted by Hello

A simples leitura de um manual de instruções para manuseamento da clássica AK 47 (vulgo Kalashnikov) despertou-me para a existência de algumas semelhanças com o futuro Orçamento do Estado para 2005. Senão vejamos:
a) Precisão: um tiro certeiro no contribuinte médio (que deixa de ter incentivo à poupança, preferindo o consumo - dominado pelo efeito-rendimento), na banca (que deixa de poder disponibilizar a poupança do contribuinte médio para o investimento empresarial) e nas empresas (que deixam de poder investir, em virtude do aumento das taxas de juro, em resultado da diminuição de poupança);
b) Alcance: estragos permanentes no mercado, porquanto com o aumento das taxas de juro, os custos de produção aumentarão, e consequentemente os preços dos bens;
c) Cartucheira: a procura, desconfiada, cria uma grave expectativa na subida futura dos preços, o que causará o chamado efeito de Édipo - ou seja, uma maior subida dos preços (esperemos que não uma espiral inflacionista)!
d) Dinâmica: uma total confusão do ambiente económico circundante, porquanto as políticas económicas do lado da oferta em nada se coadunam com a subida da receita fiscal, pelo aumento dos impostos sobre o rendimento, com a diminuição dos benefícios fiscais.

Mas não foi o Dr. Durão Barroso o defensor da política económica do lado da oferta (em prol do investimento empresarial)? AH! Já me esquecia... esse Senhor já não é o nosso PM...

Guilherme Oliveira Martins | terça-feira, setembro 21, 2004 |

segunda-feira, setembro 20, 2004

A verdade dos factos


Todos os dias somos bombardeados com informação, pelos vários meios disponíveis. De manhã entramos no carro e a rádio impera, durante o dia temos os jornais e a internet, à noite temos a televisão (quando presta). Uma questão permanece: quem nos fornece os verdadeiros factos? Na nossa sociedade, parece-me que ninguém, porquanto as notícias têm sempre opiniões pessoais (mesmo que os jornalistas assim não o queiram fazem-no sempre).

A propósito disto, consulte-se o resultado do Projecto Annenberg, denominado FactCheck.org, no qual se preconiza o estudo e apuramento da verdade dos factos. Em vez de nos inundarem com informação, dêem-nos a verdade dos factos - e deixem aos comentadores o espaço (subjectivo) da especulação...

Guilherme Oliveira Martins | segunda-feira, setembro 20, 2004 | |

domingo, setembro 19, 2004

Gravidade Zero



Perdi a cabeça! Posted by Hello


E porque é domingo, porque não uma volta de avião para experimentar o que é a falta de gravidade? Três companhias aéreas disponibilizam a referida aventura por preços (ainda) para algumas bolsas (acima dos 2.500,00 Euros): a Zero Gravity (norte americana), a European Space Agency e a Russian Space Agency. Na realidade são vôos parabólicos em que se sente a emoção da falta de peso, algo que era privilégio de astronautas até há pouco tempo! E porque não? Junte-se um grupo e basta fretar um vôo... e tomar alguns comprimidos! Um sucedâneo dos fins-de-semana radicais organizados pelas empresas?

Guilherme Oliveira Martins | domingo, setembro 19, 2004 | |

sábado, setembro 18, 2004

Finanças Públicas pouco transparentes...



Sem fiscalização orçamental não há balança que aguente... Posted by Hello


Fala o nosso Executivo em simplicidade e transparência nas contas públicas. No entanto, o Parlamento não deixa passar (mais uma vez, não é inédito - recordo-me dos tempos de uma proposta de Lei de Enquadramento Orçamental, que caducou com a moção de censura apresentada pelo Partido Renovador Democrático - o PRD) uma proposta de lei que criaria mecanismos de fiscalização da coordenação financeira do Sector Público Administrativo, incluindo os subsectores (através do Conselho de Coordenação Financeira do Sector Público Administrativo).

Enfim, continuarão as autarquias a gastar a seu belo prazer, "sem rei nem roque", até que haja uma maioria parlamentar com coragem suficiente para acabar com o excessos do poder autárquico. Sim, o grande problema são as autarquias - mas isso não é novidade.

Várias questões ficam no ar:
a) Quem verifica a adequação das políticas financeiras dos diversos subsectores?
b) Quem promove a coordenação e a concertação da preparação e da execução dos orçamentos das instituições dos diversos subsectores?
c) Quem analisa e avalia os critérios de repartição dos recursos e dos encargos financeiros entre os diversos subsectores do sector público administrativo?
d) Quem se pronuncia sobre os documentos orientadores da política financeira apresentados pelo Estado português?

A resposta é: o Parlamento e os Tribunais. Mas torna-se paradoxal no respeitante ao momento: na aprovação do orçamento e na aprovação da conta. No primeiro momento, trata-se de uma previsão, da responsabilidade do Executivo, pelo que a avaliação é suspeita / no segundo, a conta não tem dignidade (se já todos foram pagos e satisfeitos para quê reclamar?).

Assim, só podemos concluir pela existência de um vazio incompreensível, que nem o poder de execução exclusivamente pertencente ao Governo consegue preencher.

Que fazer? Por enquanto, gaste-se e fale-se ao povo que há que apertar o cinto. Responsabilidade? Só no sector privado, em nome do Senhor Accionista.


Guilherme Oliveira Martins | sábado, setembro 18, 2004 | |

sexta-feira, setembro 17, 2004

Vamos a números...


Para quem tem dúvidas sobre o estado real da economia e das finanças públicas nos últimos cinco anos, aqui vão os número puros e duros:

--------------------------------------------------------------------------
Anos 2000 2001 2002 2003(*)2004(*)


Valores reais (percentuais)

PIB Real 3.4 1.8 0.5 -1.3 1.0
Procura Interna 2.9 1.4 -0.5 -2.9 0.8
Índice de Preços no Consumidor 2.8 4.4 3.7 3.3 2.1
Taxa de Desemprego 3.9 4.1 5.1 6.4 7.0
Poupança Nacional Bruta (%) 18.4 18.2 18.8 17.8 18.0

Investimento Nacional Bruto (% do PIB) 28.8 27.7 25.4 22.8 22.8


Finanças Públicas (% do PIB)

Equilíbrio orçamental -2.9 -4.4 -2.7 -2.8 -4.1
Equilíbrio primário 0.4 -1.2 0.3 0.1 -1.1
Dívida Pública 53.3 55.6 58.1 60.1 63.3

----------------------------------------------------------------------------
Fonte: FMI (2004)
(*) Estes valores reportam-se ao primeiro semestre de cada ano.

A classe política fala, na maior parte das vezes, em números que a maioria da população desconhece! Por exemplo, a propósito do aumento da dívida pública dos Hospitais, em virtude da proibição do recurso ao crédito bancário, em 2001 Portugal era dos países cujo montante percentual da dívida pública era o mais baixo da Europa - em 2004, está no pelotão da frente... na lista dos mais endividados! Não nos esqueçamos que um dos critérios de convergência aponta para a dívida pública que não pode exceder os 60% do PIB - qual o valor actual? 63,3 %... enquanto que a evolução PIB real ronda o 1% (contra o -1,3% do ano passado). O que é isto comparado com a margem de previsão entre os 6,9% e os 11,2% da Argentina? Não há Euro que nos levante o moral!

Guilherme Oliveira Martins | sexta-feira, setembro 17, 2004 | |



O regresso à escola em recessão



O regresso à escola e a recessão económica Posted by Hello

Palavras para quê? Enquanto assistimos a um atabalhoado regresso à escola o nosso Ministro das Finanças tenta retirar da sua cartola maravilhas orçamentais:

1. A simplicidade fiscal e o consequente desaparecimento das deduções à colecta em sede de IRS - Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares - (para quê solicitar recibos aos médicos, profissionais independentes, se de nada nos vai servir para deduzir ao IRS?);

2. A implementação de taxas moderadoras diferenciadas nos Hospitais e a criação de um inefável cartão do doente, com todos os seus rendimentos discriminados (fica aqui uma questão: se tiver um rendimento elevado, mas com uma dívida substancial, não se opera??);

3. O aumento da dívida pública administrativa dos Hospitais, proibindo o recurso ao crédito bancário.

Uma beleza! O que é curioso é a classe média aguentar as manobras financeiras - aperta-se o cinto e aguenta-se o próximo choque petrolífero, tudo em nome da Senhora Retoma Económica (talvez o D. Sebastião do século XXI).
Não sou pessimista - acredito na intervenção estadual (moderada para alguns, neo-keynesiana para outros) em períodos de recessão, coisa que neste momento achou-se por bem não fazer. A solução do Senhor Ministro das Finanças poderia fazer sentido se o apertar do cinto significasse um reforço do investimento privado empresarial - mas onde está ele? Talvez em Espanha, não aqui...



Guilherme Oliveira Martins | sexta-feira, setembro 17, 2004 | |

quinta-feira, setembro 16, 2004

A Raposa e o Parlamento



Quantos séculos tem a caça à raposa? Posted by Hello

Contra tudo e todos, finalmente a caça à raposa (com cães) foi proibida em Inglaterra e Gales- repare-se que o referido desporto já tinha sido banido da Escócia em 2002.
Não obstante, esta proibição da caça à raposa no Reino Unido vem, mais uma vez, representar a força dos lobbies ambientalistas perante os representantes eleitos. Como será o futuro, em face deste precedente? O circo vai ser banido, porque os "cãezinhos amestrados" são espécies protegidas? Não vamos poder ter aves em casa, porque isso pode colocar em perigo a amazónia?
Com estes extremos, mais valia abandonarmos o planeta Terra e ocupar outro local no sistema solar. Não é que seja contra o direito dos animais - porém, acho que devem ser traçados limites...


Guilherme Oliveira Martins | quinta-feira, setembro 16, 2004 | |

quarta-feira, setembro 08, 2004

Informação, mercado e poesia


Vivemos na sociedade da informação - tudo se molda em torno desta. Inclusive os economistas chegam a sustentar a existência de um mercado da informação, com custos e benefícios próprios. Hoje deliciei-me com um artigo de M. S. Lourenço, na Revista "O Tempo e o Modo" n.º 23, de Janeiro de 1965, intitulado "Poesia e Entropia". Nele cita-se um poema de Jorge de Sena que passo a transcrever:

"Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una picolla... em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêm
só a adivinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça
Brilhando indefectível
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não é ela que custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam
Não ilumina também os rostos que se curvam
apenas brilha bruxuleia ondeia
indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:
brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
no meio de nós.
Brilha."

Em torno apenas de uma ideia, as palavras enchem-na de forma magistral. Não será a informação apenas o ruído de fundo de uma realidade bem mais abrangente? Pode ser, mas sem a informação o mundo seria bem mais triste e homogéneo...

Guilherme Oliveira Martins | quarta-feira, setembro 08, 2004 | |



O fio das horas, a ordem dos anos e dos mundos


É com uma afirmação de Proust que damos o pontapé de saída para este novíssimo blog! Com este novo espaço vamos escrever um pouco sobre os mundos que nos rodeiam - economia, sociedade, direito, política, etc. E tudo sem uma ordem específica - ao correr da pena, sem preocupações de ordenação. Os blogs representam uma certa anarquia na forma de escrever e há de tudo (dos inevitáveis e por vezes enfadonhos temas eróticos - http://www.erosblog.com/ - ao pseudo-artístico Xupacabras - http://xupacabras.weblog.com.pt/). Já consultámos muitos blogs e não queremos cair em lugares comuns - queremos fazer diferença. Para tal temos um código, que nos vai reger religiosamente:
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Código do Impecável:

1. Escrever sempre a verdade.
2. A tomada de opiniões terá que ser sempre fundamentada.
3. Não especular.
4. Não perder tempo com banalidades.
5. Não ansiar por protagonismos.
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É o Impecável no seu primeiro post!

Guilherme Oliveira Martins | quarta-feira, setembro 08, 2004 | |

A ler

Patrick Gaumer, Le Larousse de la bande dessinée



Correspondence Between Stalin, Roosevelt, Truman, Churchill and Attlee During World War II



Dietrich Schwanitz, Die Geschichte Europas



Dietrich Schwanitz, Bildung - Alles war man wissen muss



Niall Ferguson, Virtual History: Alternatives and Counterfactuals



Niall Ferguson, The House of Rothschild: Money's Prophets 1798-1848



Niall Ferguson, House of Rothschild: The World's Banker, 1849-1998



Joe Sacco, Safe Area Goradze



Joe Sacco, Palestine



Hugo Pratt, La Maison Dorée de Samarkand



John Kenneth Galbraith, The Affluent Society (Penguin Business)



Mary S. Lovell, The Sisters - The Saga of the Mitford Family (aconselhado pelo Jansenista)



Charlotte Mosley, The letters os Nancy Mitford and Evelyn Waugh (aconselhado pelo Jansenista)



Ron Chernow, Alexander Hamilton



Henry Fielding, Diário de uma viagem a Lisboa



AAVV, Budget Theory in the Public Sector



JOHN GRAY, Heresies: Against Progress and Other Illusions



CATHERINE JINKS, O Inquisidor, Bertrand, 2004



ANNE APPLEBAUM, Gulag: A History of the Soviet Camps, Penguin Books Ltd, 2004



António Castro Henriques, A conquista do Algarve, de 1189 a 1249. O Segundo Reino



Philip K. Dick, À espera do ano passado



Richard K. Armey e Dick Armey, The Flat Tax: A Citizen's Guide to the Facts on What It Will Do for You, Your Country, and Your Pocketbook



Jagdish N. Bhagwati, In Defense of Globalization, Oxford



Winston Churchill, My Early Life, Eland




A ver

Eraserhead (um filme de David Lynch - 1977)


Eraserhead (1977) Posted by Hello

Nos meus lábios, JACQUES AUDIARD, 2001



A Tua Mãe Também, ALFONSO CUARON, 2002



Pickup on South Street, SAMUEL FULLER



The Bostonians, JAMES IVORY (real.)



In the Mood for Love, KAR WAI WONG, 2001



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