O Impecável
"Um homem que dorme tem em círculo à sua volta o fio das horas, a ordem dos anos e dos mundos. Consulta-os instintivamente ao acordar, e neles lê num segundo o ponto da terra que ocupa, o tempo que decorreu até ao seu despertar; mas as respectivas linhas podem misturar-se, quebrar-se." Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido



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segunda-feira, março 28, 2005

O Défice (e não é o que trabalha no Banco de Inglaterra)


Se bem entendi, parece que se cozinhou um Acordo no seio da União Europeia (UE) para tratar dos défices orçamentais que os seus Estados-membros persistem em ter. A solução é qualquer coisa como isto: uma vez que os países não conseguem evitar ter défices de arrepiar (isto, repare-se, mesmo depois de lançar mão de nauseantes manobras de camuflagem contabilística), então passa-se a permitir oficialmente que em certas circunstâncias o prevaricador tenha «défices excessivos» [sic].
Não sou uma mente muito dada a penetrar nas mais profundas subtilezas desse fenómeno chamado «a economia» (palavra dita pausadamente e com assombro, arregalando o bugalho). Mas ainda assim, tudo isto merece-me alguns comentários e inquieta-me o espírito com algumas dúvidas.
Comecemos por atentar na expressão «défice excessivo». Parece-me um belo pleonasmo. É como dizer «morte definitiva». Ou «tiroteio perigoso». O défice não é sempre excessivo? «Défice» não é o resultado de se gastar mais do que se tem? Então o rigor financeiro da União Europeia consiste em punir apenas (e tão-só) aqueles que muito repetidamente e sem absolutamente qualquer justificação gastam aquilo que não têm? Vamos longe.
Melindra-me também um pouco (mas só um pouco) este estranho à-vontade com que os nossos governantes deixam cair os braços perante a dificuldade (que existe) de apertar o cinto. O problema tem contornos excepcionais? Então adoptem-se medidas excepcionais. Grandes males, grandes remédios. O nosso défice não tem todo origem em grandes investimentos que o Estado esteja a fazer e dos quais não possa prescindir. Muitas vezes, nem sequer estamos a falar de despesa gerada com um mínimo de racionalidade. De onde vem então o défice? A Administração Pública é pesada? Aligeire-se. Há muitos funcionários? Despeçam-se. Teria de se pagar subsídios? Abulam-se os subsídios. As concessões são caras? Dêem-se os bens aos concessionários. Problema: isto é impopular. Tudo bem. Mas não venham é dizer que permitir a acumulação de défices é a única solução. Não é. É, simplesmente, uma medida socialmente macia.
Depois, fala-se do défice como se se tratasse de uma quimera, a melhor coisa que poderia ter acontecido aos portugueses! Como se o «défice» fosse «lucro». «Até agora estávamos na miséria porque a União Europeia não nos deixava ter défice». Agora que vamos ter défice à larga, agora sim, o futuro é radioso... Mas será assim? Mais uma vez, apelo à benevolência do leitor. Vejamos. O défice tem de ser pago. Quer isto dizer, o Estado tem compromissos (despesa) que, mais tarde ou mais cedo, têm de ser satisfeitos (paga). Ora, que eu saiba, o pagamento da despesa satisfaz-se com o arrecadamento de receita (impostos). Em síntese: se aumenta a despesa, aumenta a receita -- donde, se se aumenta o défice, aumenta-se os impostos. Naturalmente, retira-se desta história do aumento do défice que os nossos governantes entendem que o fardo fiscal ora suportado pelo contribuinte ainda é leve. (E quem somos nós para contestar a justeza desse juízo?) O absolutismo tinha o dízimo; a democracia tem o terço; mas os esmagadores impostos sobre o rendimento parece que ainda não chegam. (E se os nossos governantes o dizem, nós aceitamos.) Se os nossos governantes também dizem que os impostos indirectos sobre o consumo não chegam, nós também acreditamos -- sem levantar o olhar. É razoável. Afinal, quem comprar um automóvel, só paga mais de impostos do que de automóvel; e, noutro caso, só se paga 19% de imposto sobre um bem que se compra pelo simples facto... de se estar a comprar o bem. Tudo isto está muito certo e tudo isto nós aceitamos sem questionar. Só tenho é o desaforo -- que, como todos os desaforos, vem da ignorância -- de pedir que me expliquem: quando é que chegamos à parte em que isto é uma vitória para os portugueses?

Jagoz | segunda-feira, março 28, 2005 |

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A ler

Patrick Gaumer, Le Larousse de la bande dessinée



Correspondence Between Stalin, Roosevelt, Truman, Churchill and Attlee During World War II



Dietrich Schwanitz, Die Geschichte Europas



Dietrich Schwanitz, Bildung - Alles war man wissen muss



Niall Ferguson, Virtual History: Alternatives and Counterfactuals



Niall Ferguson, The House of Rothschild: Money's Prophets 1798-1848



Niall Ferguson, House of Rothschild: The World's Banker, 1849-1998



Joe Sacco, Safe Area Goradze



Joe Sacco, Palestine



Hugo Pratt, La Maison Dorée de Samarkand



John Kenneth Galbraith, The Affluent Society (Penguin Business)



Mary S. Lovell, The Sisters - The Saga of the Mitford Family (aconselhado pelo Jansenista)



Charlotte Mosley, The letters os Nancy Mitford and Evelyn Waugh (aconselhado pelo Jansenista)



Ron Chernow, Alexander Hamilton



Henry Fielding, Diário de uma viagem a Lisboa



AAVV, Budget Theory in the Public Sector



JOHN GRAY, Heresies: Against Progress and Other Illusions



CATHERINE JINKS, O Inquisidor, Bertrand, 2004



ANNE APPLEBAUM, Gulag: A History of the Soviet Camps, Penguin Books Ltd, 2004



António Castro Henriques, A conquista do Algarve, de 1189 a 1249. O Segundo Reino



Philip K. Dick, À espera do ano passado



Richard K. Armey e Dick Armey, The Flat Tax: A Citizen's Guide to the Facts on What It Will Do for You, Your Country, and Your Pocketbook



Jagdish N. Bhagwati, In Defense of Globalization, Oxford



Winston Churchill, My Early Life, Eland




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Eraserhead (um filme de David Lynch - 1977)


Eraserhead (1977) Posted by Hello

Nos meus lábios, JACQUES AUDIARD, 2001



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